quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

No Mundo dos Cavaleiros e Dragões





Olá gente!

Mais um conto no forno. Dessa vez a publicação será na antologia No Mundo dos Cavaleiros e Dragões organizada por Ademir Pascale e editada pela All Print. Os dois autores convidados são Rober Pinheiro e Leandro Reis (que não precisam de apresentação, né?).

Essa antologia promete grandes surpresas no universo da Literatura Fantástica, e estou super animada por poder incluir meu conto "Sob a Armadura" nela. Além de mim, a antologia conta com vários bons autores de fantasia como Duda Falcão, Simone Marques e outros.

Infelizmente deixei meus Dragões de lado, mas ainda teremos mais surpresas esse ano...

Quando tiver notícias sobre o lançamento vou postar para vocês.

Uma grande abraço a todos!

Alícia

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sou um Gato


Auto Retrato Biográfico


Como se repara o mal que causamos? Será que podemos repará-lo? Às vezes essa pergunta me atormenta. Por que o ser humano tem que ser tão desconfiado? Será que a palavra de um semelhante não basta? Precisamos julgar um indivíduo pela amostragem geral?
Tudo me parece tão caótico nesse mundo em que vivemos. Quando confiamos pagamos por essa confiança. Quando não confiamos, pagamos pela desconfiança. Sempre permanece a pergunta: o que é certo? A tristeza dessa pergunta é que muitas vezes acabamos por descobrir o certo através do errado. Então, já é tarde demais.
Às vezes queria ser um gato. Não existe vida mais simples e corriqueira. Eles são independentes e espontâneos e nunca são julgados por isso. Comem quando sentem fome. Vivem suas vidas sem se preocupar com os outros. Divertem-se caçando borboletas. Tudo é tão simples quando se é um gato. Sem convívio social, sem trato social, e, principalmente, sem destrato social. Pouco ou nada importa a um gato se você gosta dele ou não. Nossas regras não se aplicam a eles, nem suas próprias regras são aplicáveis.
Às vezes acho que sou um gato. Não sei lidar com as pessoas. Só confio naqueles que se provam confiáveis. Vivo num mundo só meu. Magôo os outros sem a intenção de fazê-lo, simplesmente pelo fato de não saber me expressar. Ignoro todo o trato social. Infelizmente, apesar de saber dessa ignorância, continuo a cometer essa falta, pela simples inabilidade em não cometê-la. Só não tenho pêlo, e pulgas.
No entanto, acho que existe mais dignidade num gato do que em mim. Desculpa-se o gato pelas suas faltas, mas não se desculpa um ser humano. Como desculpá-lo? Se age como um gato então deixa de ser homem. Onde estão aquelas peculiaridades tão familiares aos homens? Falo daquelas peculiaridades humanas, daquelas que os gatos não possuem. Não falo do amor, isso os gatos têm. Eles amam e talvez, amem mais incondicionalmente que os homens. Não falo da confiança, os gatos confiam. Falo das peculiaridades civilizatórias. Peculiaridades que tornaram o homem a espécie dominante neste planeta. Falar, pensar, agir em conformidade com o que se pensa. Falo de honestidade, de sinceridade. Ninguém criticava o homem das cavernas por roubar a sua fêmea desejada.
Vê o problema? Essas peculiaridades civilizatórias, tão características e tão presentes nos homens são as mesmas responsáveis pelas dores da modernidade. Ser sincero e ser honesto magoa. Hoje em dia ninguém mais deve roubar a sua fêmea desejada. Pensar e agir se tornaram atos separados e independentes. Pensa-se de uma forma, age-se de outra. Quem pode então valorizar essas pseudo-qualidades? Diga sempre a verdade, doa a quem doer. Acho quem ninguém acredita nesse chavão. De que vale a verdade? Ela certamente não condiz com as humanidades. Mais vale uma verdade que causa uma lágrima ou uma mentira que causa um sorriso? Devemos optar pela hipocrisia ou pelo cinismo? Devemos ser falsos ou descarados? Qualquer que seja a resposta ela será mais bem vinda que a honestidade e a sinceridade. Para quê verdade? Afinal, ela será sempre um ponto de vista. Será sempre uma nuance. Sempre um resquício de civilidade.

Acho que as peculiaridades civilizatórias são mais constantes nos gatos. Não se vê um gato dissimulado ou desonesto. Isso simplesmente não faz parte da natureza deles. Suas atitudes são sempre genuínas e condizentes com aquilo que querem. Não são capazes de mentir, iludir ou enganar. Ser honesto causa uma lágrima e o ser humano não está capacitado para lidar com lágrimas. Os gatos estão. Talvez por isso digam que os gatos são donos de seus homens, e não o contrário. Talvez por isso os gatos ainda roubem as suas fêmeas. Talvez por isso ninguém goste dos gatos. Pensar e agir sempre serão partes iguais em mim. Não posso conceber um mundo que não seja assim. Talvez por isso eu seja um gato.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dois Lançamentos em um dia





Os lançamentos dos livros Poe - 200 Anos (All Print) e O Desejo de Lilith (Ed. Draco) vão acontecer simultâneamente no próximo dia 20 de fevereiro no Bardo Batata em São Paulo. O evento vai reunir a antologia organizada em homenagem a Edgar Allan Poe e o primeiro livro do organizador cultural Ademir Pascale.
Parece que vai ser um lançamento "daqueles"...
O convite está aí e todos que quiserem aparecer serão bem-vindos.

Beijos,
Alícia

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Um Conto pelo Haiti



O Blog Ficção Científica e Afins, da escritora Ana Cristina Rodrigues está iniciando uma campanha de auxílio às vítimas do terremoto no Haiti. O conto abaixo é minha contribuição. Amigos escritores e leitores, ajudem a divulgar essa ideia. Com o mundo do jeito que está, um dia o Haiti pode ser aqui... Clique no link do blog da Ana e saiba como ajudar.






Na Nuca





O bruxulear da vela à sua frente não o incomodava. Estava diante da decisão mais importante de sua vida. As lembranças não eram mais dolorosas. Será que conseguiria continuar a fingir? Fingindo dava a impressão que se importava, mas na verdade, nada mais importava. Nada, desde aquele dia.
Tinha uma vida pacata, sossegada e feliz. Tinha amor, carinho e ternura. Chegar em casa era como aninhar-se. O aroma corriqueiro que saía da cozinha misturado ao cheiro doce de sua nuca. A mesma nuca que cheirava todas as noites e sempre tinha vontade de cheirar mais. O quase coque a deixava à mostra de propósito. Ela sabia que, ao entrar em casa, aquele seria o primeiro lugar no qual ele iria. Nunca tinha conseguido se ver sem ela. Aquele era seu mundo particular.
Viver sempre fora algo despropositado. Como se pode viver sem um motivo para tal? Estar vivo não sustenta o ato de viver em si, mas muitos o sustentam assim. Deve existir um motivo para viver, do contrário, tudo não passa de perda de tempo. Ele tinha esse motivo ao lado dela. Agora, não tinha mais. Tudo não passava de um imenso vazio.
Durante algum tempo tentou correr. Fugir de si mesmo. Fugir daquela dor, mas a dor se foi e nada ficara em seu lugar. Para que existir, se nem mais se quer fugir?
Na tarde em que tudo começou, ele chegou mais cedo em casa, para vê-la. Ansiou durante todo o dia pelo momento de sentir-lhe o perfume da nuca misturado aos temperos dos pratos que ela preparava. Abriu a porta extasiado com tal possibilidade e correu até a cozinha para encontrá-la. Ela não estava lá. Não havia aroma, cor ou gosto que se comparasse à decepção que sentiu. Percorreu então a casa. Não era uma casa grande ou com vários cômodos. Contudo, ao percorrê-la, sentiu o tempo parar. Uma eternidade a cada canto vazio, até a encontrar. O pequeno quarto pareceu ampliar-se com a visão.
Nem mesmo quando se lembrava conseguia sentir. Olhou novamente para a vela que ardia à sua frente pensando no porque de ainda estar ali. Sua vida acabara naquele pequeno quarto junto com suas últimas lágrimas. Devia esperar seu destino ou tomá-lo para si? Contemplou a face mais absurda de viver e percebeu que não havia sentido para continuar. Decidir se a vida vale ou não a pena ser vivida era a única verdade que existia.
Estava sozinho no mundo agora. Seus pais faleceram cedo. Sua mãe morreu no parto, não suportou dar a luz a gêmeos. Seu pai morreu com ela, mas seu corpo só deixou este mundo alguns anos depois. Definhou lentamente até partir deixando com ele a responsabilidade de cuidar da irmã. Cresceu com ela ao seu lado e sempre cuidou para que nada lhe faltasse. Cheirar-lhe a nuca todas as noites era sentir que tinham uma vida normal. Era evocar imagens felizes. Era afastar o cansaço e o desapontamento de ter um emprego insuportável só para poder dar a ela tudo o que ela queria. Prendia-se aquele cheiro como um náufrago se prende a um pedaço do navio que ainda insiste em flutuar. Essa era a sua vida. Insistir em flutuar quando o mundo afundava ao seu redor. Um cheiro, um beijo, um olhar carinhoso, um desejo de boa noite, uma esperança de uma vida normal. Um sopro de alegria em uma vida enfadonha. Era tudo tão pequeno e insignificante, mas ao mesmo tempo tão profundo e contundente. Ela era tudo que ele tinha, mas ele não tinha nada.
Só se deu conta dessa realidade naquela tarde. Os lampiões que iluminavam as ruelas por onde passava ainda estavam apagados. O sol começava a pensar em dormir para dar lugar à bela lua cheia que transparecia no céu timidamente esperando sua hora de brilhar. Vinha tranqüilo pelo calçamento irregular desviando das carruagens ao atravessar as ruas. Pensava que teria mais tempo em casa. Mais tempo para descansar, conversar, ler para ela. Simplesmente estar com ela. Pouco tinha feito isso ultimamente. Sentia falta de ter com quem partilhar a sua vida, ou sua inexistência viva. Tinha planos, mas ela tinha outros.
Amava o irmão, mas chegara a hora de se separarem. A sufocante atenção exacerbada começava a lhe dar asco. Queria viver sua vida, e não a dele. Era uma mulher e tinha metas. Tinha objetivos, propósitos. Queria sair dali. Queria se casar. Queria ter filhos. Queria o amor de um homem. Aquele amor capaz de tirar o fôlego. De te fazer flutuar. Aquele amor que te faz sorrir sozinha só por lembrar. Aquele amor que faz um leve toque na nuca reverberar pelo seu corpo arrepiando cada parte dele, como um pequeno choque que te levava ao céu sem nunca ter saído do chão.
Quando chegou ao quarto naquela tarde, pela porta entreaberta viu o corpo nu da irmã entrelaçando-se em outro. Por algum tempo admirou a cena. Jamais vira igual beleza em sua vida. Sorriam, estavam felizes. Mas o pouco que ali ficou foi o suficiente para transtorná-lo. Da admiração, passou à inveja. Aquele cheiro da nuca nua lhe vinha à mente, agora, tão amargo quanto o fel. Sentiu inveja, raiva, nojo. Outro estava a tocar-lhe a nuca. A nuca que lhe pertencia, lhe confortava. Aquele seu lugar sagrado profanado para sempre. Maculado.
Sentiu uma pontada em seu peito. Traição. Se ele não era feliz, então ninguém tinha o direito de sê-lo. Pensou que ela estava feliz com ele. Ilusão. Ela se entregava aquele homem com uma felicidade que ele jamais cogitou que existisse. Aquilo era uma ilusão. Nada tão belo e tão sóbrio merecia existir.
Deixou a porta em silêncio e foi ao velho escritório. Abriu a caixa de madeira que estava na cristaleira. Duas pistolas sobre a pequena almofada vermelha se acomodavam junto com duas balas. As pistolas de duelo de seu pai. Ninguém merecia o que ele não tinha.
Escancarou a porta. Dois tiros ressoaram na escuridão de sua alma. Dois corpos caídos sobre a cama. O sangue escorrendo pela brancura dos lençóis.
Sentou-se na sala e chorou. As armas ficaram no quarto. Quando a polícia chegou, ele estava sentado na sala olhando as sombras que bailavam à sua frente. Sombras de uma vela. Sombras de uma vida. Sombras de uma ilusão. Como o mais puro mármore, seu coração se tornou duro e frio. Nem mesmo a culpa o consumia. Eles tinham que morrer. No mundo, a beleza não foi feita para durar.Em sua cela escura, olhava uma vela e sua chama que tremulava. Esperar o dia de sua morte ou escolher o dia em que vai morrer? Não importava. Quando disparou as armas, ele as disparou contra si mesmo. Estava morto antes de chegar àquela cela e a forca nada mais era do que a inevitabilidade da potência se tornando finalmente ato.

Convite para Lançamento


Olá pessoas!!!
Mais uma vez, estou convidando todos para o lançamento do livro Poe - 200 Anos. Esse livro é uma maravilhosa homenagem ao pai do terror e conta com as participações de excelentes autores. Ah, também tem um continho meu... ;)
Será editado pela All Print e tem como organizadores, Ademir Pascale e Maurício Montenegro.
O convite acima foi feito por Dimitry Uziel e ficou muito legal!
Participem do lançamento, dia 20 de fevereiro no Bardo Batata em Sampa.
Beijos,
Alícia

sábado, 16 de janeiro de 2010

Capa completa do Poe - 200 Anos



Estou abrindo as postagens do ano com essa bela imagem. Essa é a capa aberta do Poe - 200 Anos. Espero que seja a versão final, porque não dá para melhorar o que está ótimo.
Ficou maravilhosa. Particularmente, AMEI!!!
Bjs
Alícia